Por Redação - O Acre Notícia, 31 de maio 2019
Judiciário
acompanha decisões e diz que medida precisa ser estudada com cautela. Ideia é
construir pavilhões neutros para presos evangélicos, segundo Iapen.
Uma medida
que precisa ser avaliada cautelosamente. Esta é a visão do Judiciário com
relação às novas decisões anunciadas pelo Instituto de Administração Penitenciária
do Acre (Iapen-AC).
O presidente
do instituto, Lucas Gomes, diz que está, aos poucos, implantando o que chama de
pavilhões neutros dentro das unidades prisionais do estado, o que implica em
acabar com a divisão dos grupos criminosos dentro das cadeias.
Nestes
pontos neutros, segundo ele, são colocados os presos evangélicos, que não
sofrem influência de facções. Desde 2016, quando houve uma rebelião no Complexo
Penitenciário Francisco D’Oliveira Conde, que deixou quatro mortos, algumas
atividades foram suspensas.
Aulas,
cursos de capacitação e espaços em comum foram deletados dentro das cadeias.
Três anos após o ocorrido, o Estado tenta retomar a ordem dentro dos presídios
– incluindo grupos especiais e os chamados procedimentos administrativos, que
se resumem em uma disciplina mais rígida.
No últimos
meses, foram inaugurados dois novos prédios, que resultaram na abertura de 900
novas vagas, cada um com 450 vagas.
Na unidade
feminina em Rio Branco já existe, segundo o Iapen e a Vara de Execuções Penais,
espaços em que as presas, mesmo de facções diferentes, dividem.
“A gente tem
tentado superar isso. Hoje no feminino a gente já superou quase que na
totalidade essa divisão por organizações criminosas. As mulheres conseguem ter
espaços em comum”, pontua Gomes.
Religião a favor
No mundo do
crime, aqueles que se convertem a algum tipo de religião são perdoados pelos
outros membros de facção ao “rasgar a camisa” - termo usado para alguém que decide
deixar o grupo criminoso.
É neste
ponto que a religião acaba sendo uma grande aliada da Segurança para recuperar
o preso.
“A gente
também tem recebido um auxílio muito grande de entidades religiosas, que têm
feito um trabalho, têm resgatado essas vidas através do evangelho. Aí o que
acontece é que a gente consegue neutralizar, consegue espaços neutros dentro
dos presídios sem a influência e o controle das organizações criminosas”,
explica o diretor do Iapen.
Uma das
medidas é retornar com as aulas dentro das unidades prisionais. Além disso,
Gomes diz que o Iapen está tentando parcerias para voltar a dar cursos
profissionalizantes para os presos, que também haviam sido suspensos.
O espaço do
Polo Moveleiro, em Rio Branco, foi dado ao Iapen para ser usado justamente
nessas atividades.
“As escolas
devem funcionar como zonas neutras. A gente recebeu agora o polo moveleiro, que
era um local que estava desativado e agora estamos buscando parcerias,
principalmente com o sistema S, para fazer capacitações aos presos”, explica.
Fundo rotativo
Outra medida
que está em fase de estudo e implantação pelo Iapen é o fundo rotativo, que já
existe em outros estados. De acordo com o diretor, essa medida já está fase de
regulamentação.
Basicamente,
consiste em pagar um salário para que o preso trabalhe e esse valor seja divido
entre ele, a família, e o próprio Estado.
“No geral,
chama as empresas para dentro dos presídios. Elas fazem um investimento, pagam
um salário mínimo e, desse salário mínimo, 25% vai para o apenado, 25% vai para
um fundo para quando ele sair; 25% para a família e 25% volta para o Estado
para melhorias, tanto no ambiente prisional, como de fomento do próprio
programa”, explica Gomes.
Nos próximos
dias, o Iapen informou que vai ser inaugurado um novo prédio, onde vão ficar os
presos evangélicos.
Cautela
A frente da
Vara de Execuções Penais desde 2011, a juíza Luana Campos diz que acha a medida
válida, mas que precisa ser estudada com muito cuidado para não agravar a
situação no estado.
Sobre a
retomada das atividades, ela diz que isso ajuda a controlar os ânimos dentro da
cadeia.
“Eu sempre
digo, em minhas conversas com o Iapen, que tudo deve ser feito com muito
cuidado e muito estudo para que não haja, não só morte deles, que cumprem pena,
mas dos agentes do estado que estão lá todos os dias”, pontua.
Porém, ela
acredita que a retomada de atividades e o oferecimento de serviços dentro das
unidades prisionais fazem com que a situação fique mais tranquila com o passar
do tempo.
“Por
exemplo, hoje no feminino a gente consegue trabalhar as duas facções juntas, na
sala de aula, nas atividades de trabalho, coisa que não estávamos conseguindo,
então, é um trabalho gradativo. A gente tira direitos no sentido de não ter
estudo, não ter trabalho, não ter a qualificação profissional, inclusive,
professores estavam com medo de ir para lá e agora estamos retomando, até os
médicos estão voltando”, complementa.
O presidente
do Iapen diz que concorda que o trabalho precisa feita a longo prazo e que as
mudanças vão ser feitas no tempo certo.
“Então, essa
tem sido nossa estratégica, tem dado certo. É algo que não vai ser resolvido
como passe de mágica, mas que a gente tem resolvido com muito trabalho, tanto
em nível de estado, como sociedade civil, muito bem representada por essas
instituições religiosas”, finaliza Gomes.
G1/AC
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