Por redação - O Acre Notícia, 13 de setembro 2019
O
ex-deputado federal e ex-coronel da PM (Polícia Militar) Hildebrando Pascoal,
66, que ficou conhecido nacionalmente por integrar um grupo de extermínio que
utilizava motosserra para cometer assassinatos no Acre na década de 1990,
voltou para a prisão na tarde de ontem, condenado por ameaças contra sua
ex-cunhada, Vanda Milani, procuradora em 2011 e atual deputada federal, e a
desembargadora Eva Evangelista.
Condenado a
83 anos e seis meses de prisão, Pascoal foi preso no dia 16 de dezembro de 1999.
Ficou 17 anos no regime fechado. Em outubro de 2016, progrediu para o
semiaberto, pernoitando na prisão, e para o regime aberto em fevereiro de 2017.
Sete meses depois, porém, Pascoal foi condenado, pelas ameaças, a um ano e dois
meses de prisão, em regime semiaberto.
Quando a
Justiça somou à pena que ele ainda tinha a cumprir pelos homicídios da década
passada, decidiu determinar o retorno do ex-policial ao regime fechado. À
época, a defesa pediu à Justiça que ele permanecesse em prisão domiciliar, o
que foi acatado. No entanto, o MP (Ministério Público) recorreu e a Justiça
determinou a prisão de Pascoal.
Segundo a
Justiça do Acre, Pascoal deu entrada no presídio de segurança máxima Antônio
Amaro na tarde de ontem. Lá, ele aguardará a realização de uma perícia médica.
Dependendo do resultado, poderá voltar ao regime domiciliar, uma vez que a
defesa alega que seu estado de saúde está debilitado.
As
informações foram cedidas ao UOL pela juíza da VEP (Vara de Execuções Penais)
Luana Claudia de Albuquerque Campos. Ela já havia determinado a revogação da
prisão domiciliar de Pascoal em dezembro do ano passado, determinando sua volta
ao cárcere. O responsável por manter sua decisão foi o desembargador Roberto
Barros. A reportagem não localizou a defesa de Hildebrando Pascoal.
Conhecido
pelo “crime da motosserra”
Acusado de
chefiar um grupo de extermínio no Acre, Hildebrando Pascoal Nogueira Neto
cumpriu pena em Rio Branco por tráfico, tentativa de homicídio e corrupção
eleitoral por 17 anos.
Enquanto já
estava preso, foi condenado, em 2009, pela morte de Agilson Firmino, conhecido
como Baiano. O caso ficou conhecido nacionalmente como “o crime da motosserra”.
Pascoal fez
carreira na Polícia Militar e chegou a ser comandante. Em 1994, se elegeu
deputado estadual pelo PFL. Em 1998, foi eleito deputado federal, mas não
chegou a cumprir nem um ano do mandato.
Após
denúncias contra o ex-coronel, o Congresso formou uma CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) chamada de CPI do Narcotráfico. A CPI e o MP investigaram a
existência de um grupo de extermínio no Acre, com a participação de policiais,
e que seria comandado por Hildebrando. O grupo também era acusado de tráfico de
drogas.
A principal
acusação contra o então deputado durante a CPI era que ele teria sido mandante
do assassinato, em 1997, de pessoas que testemunhariam contra ele. Pascoal foi
apontado como responsável pelas mortes dos policiais Walter José Ayala, Jonaldo
Martins, Sebastião Crispim da Silva e do mecânico Agilson Santos Firmino, o
Baiano.
Naquele
mesmo ano, ele foi preso e teve seu cargo de deputado cassado.
Ameaças contra magistradas ocorreu em
2011
As ameaças
contra procuradora e desembargadora
Enquanto estava
preso, Pascoal enviou, em novembro de 2011, cartas à desembargadora Eva
Evangelista e à procuradora de Justiça Vanda Milani Nogueira, sua ex-cunhada.
Ele pediu à
procuradora R$ 6.000 e ameaçou informar aos órgãos competentes que a viu
entregar o gabarito de um concurso público para que a filha da desembargadora
fosse aprovada.
Veja a
íntegra das cartas:
Procuradora
de Justiça Vanda Denir Milani Nogueira
Desde os
primeiros dias de minha prisão, você, com medo dos opressores, foi a pessoa que
mais me abandonou. O que mais senti foi, para agradar os tiranos, o seu
julgamento, coisa que você não tem moral de fazê-lo, pois a maioria dos
problemas criados teve você como pano de fundo, ou seja, você como
protagonista, principalmente aquele da Secretaria de Segurança Pública, quando
você era delegada de polícia, que você hoje finge até para si própria que não
tem nada a ver, esquecendo-se que pessoas que se encontram na minha situação, o
que mais tem é MEMÓRIA.
Nas poucas
vezes que precisei de você e de sua família, para não dizer a única, tive
minhas mãos vazias.
Hoje
encontro-me em uma situação, que sei, que cheguei a ela levada pelo descaso,
pela falta de força de vontade, pelo descaso dos meus irmãos e da minha família
e, que muitas vezes, ainda chegam aos meus ouvidos que eu teria sido o
responsável por ter destruído a família.
Vanda, você
sabe como ninguém que nossos problemas eram únicos e de todos, inclusive, indo
à minha casa fazendo cobranças.
Durante meus
julgamentos não delatei ninguém, dei meu próprio sangue e dos meus filhos e
netas, e o que eu recebi foi o desprezo e o descaso.
O Des.
Gercino pediu ao governador Orleir Cameli para que me persuadisse a participar
de uma reunião com ele, para acabarmos com as desavenças. Orleir fez o pedido e
eu o aceitei.
A reunião
fora marcada para quarta-feira entre Gercino e eu, sendo mediada pelo
governador. Ingenuamente comentei com você, Vanda, da reunião que seria
realizada entre Gercino e eu com a mediação de Orleir. Estranhamente a reunião
não fora realizada.
Você, Vanda,
sabendo da reunião porque eu havia lhe falado, movida pelo ódio e pela vingança
por não ter sido escolhida por mim como candidata a deputada estadual, falou
para o então governador que eu iria matá-lo, razão pela qual a reunião não se
realizara.
Após minha
cassação e prisão, o dr. Ery Varela, advogado do então governador Orleir
Cameli, me falara desses absurdos, dessa mentira cometida por você.
O Des.
Gercino entrou em desespero e passou a utilizar-se de todos os meios
repugnáveis ao Estado Democrático de Direito para me destruir, como destruiu-me
com o apoio de Jorge Viana.
Vanda, não
tenho mais nada a perder. O que vai me segurar, no momento, é o objetivo de
manter-me e manter minha família.
Você
conseguiu com sua turma tirar a minha patente e o meu salário, posição que
conquistei, com honra.
O Ministério
Público e o Poder Judiciário acreano nunca teve e não tem autoridade moral para
me denunciar e condenar-me.
Sinto muito,
mas vou tomar atitudes que até hoje evitei, mesmo sendo muito massacrado,
portanto, vou tornar público todas as mazelas do Ministério Público e do Poder
Judiciário, fornecendo detalhes.
Não tenho
mais nada a perder. O que vai me segurar, no momento, é o objetivo de manter
minha família.
Diante do
exposto, solicito que me encaminhe, mensalmente, a importância de R$ 6.000,00
(seis mil reais) para me manter e manter minha família (filhos e netas).
Caso não me
atenda, tenha a gentileza de encaminhar esta carta para os órgãos competentes,
pois caso contrário eu a encaminharei e apresentarei esclarecimentos provando
os fatos.
Unidade
Penitenciária 2/AC, 27 de setembro de 2011. Hildebrando Pascoal.
.S. Vanda,
Ainda tem as aposentadorias dos soldados da borracha para serem esclarecidas,
ou seja, tornar público as podridões. Quando eu for ouvido pelos Conselhos
Nacional de Justiça e do Min. Público, as pensões dos soldados da borracha
serão esclarecidas também.”
Senhora
Desembargadora Eva Evangelista,
Trinta dias,
aproximadamente, antes da realização do concurso público para provimento de
cargos de Promotor de Justiça do Estado do Acre, a senhora e o seu marido
Menandro passaram a frequentar todas as noites a casa da procuradora de Justiça
Vanda Denir Milani Nogueira, minha cunhada.
E como todas
as noites nós nos encontrávamos lá para longas conversas, informações e
recebimento de documentos sigilosos do Poder Judiciário, em momentos agradáveis
regados a jantares, não é justo que só eu faça parte de uma colheita tão
amarga: ver meus filhos e netos passarem necessidades por uma atitude de comum
acordo que tomei com a senhora e outros amigos de seu quilate que não vem ao
caso citá-los, a não ser em hora oportuna.
Diante de
tanta amizade, de tantos envolvimentos, não cabia a senhora se aliar aos meus
algozes Jorge Viana e Tião Viana condenando-me à desonra e à execração pública.
A senhora
bem sabe que não é detentora de princípios éticos e morais para julgar-me como
ser humano, nem tão pouco como Oficial honrado que fui.
Você Eva,
sabe muito bem que eu presenciei a Procuradora de Justiça Vanda Milani
Nogueira, minha cunhada, entregando-lhe, em mãos, o gabarito das provas do
concurso público do Ministério Público Estadual para ser repassado para sua
filha, Gilcely Evangelista, hoje Procuradora de Justiça.
Em outra
oportunidade presenciei também, a minha cunhada Vanda entregando em mãos para o
seu esposo Menandro que se encontrava em sua companhia o gabarito das provas do
concurso público do Ministério Público do Estado do Acre.
Desta vez, o
concurso fora anulado em face da evidência da incapacidade de seu marido e
outro. O escândalo veio à tona.
Atendendo
pedido verbal da minha cunhada Vanda e da senhora, fui ao jornal A Tribuna e
pedi ao proprietário do jornal, empresário Ely Assem de Carvalho, que abafasse
o escândalo referente ao concurso público do Ministério Público do Estado do
Acre. Pedido semelhante fiz ao jornalista Silvio Martinelo, proprietário do
jornal A Gazeta. Paguei muito caro por esse pedido feito ao Silvio.
Valter
Montila era o Procurador-Geral de Justiça, de direito, mas de fato era a Vanda.
Depois a
Vanda fora nomeada Procuradora-Geral de Justiça.
A única arma
que eu tenho e que não gostaria de usá-la é a caneta, associada aos
conhecimentos que tenho sobre sua conduta nada recomendável para uma pessoa da
sua importância social, portanto irei usá-la com a consciência tranquila.
Encaminharei
a cópia desta carta para os Conselhos Nacional de Justiça e do Ministério
Público para conhecimento e providências, bem como após encaminhamento a
postarei na internet.
Tenho plena
certeza que serei ouvido pelos Conselhos e prestarei todos os esclarecimentos.
Infelizmente
em certos momentos de nossas vidas, nos encontramos em posições em que nos
deparamos com pessoas erradas, nos lugares errados e em situações mais erradas
ainda, onde traímos os nossos ideais e nossas convicções.
Este é o
desabafo de um homem que sempre, indiscutivelmente, colocou em primeiro lugar a
ética e a honra.
Unidade de
Regime Fechado 2/AC, 3/11/11″.
via - UOL / folhadoacre
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