Mãe de 4 filhos vive com R$ 400 por mês no AC e fala de dificuldades: ‘dependo sempre da ajuda de pessoas’
“Já fiz muitas vezes isso de
eu dar pra eles e eles me perguntarem se eu não vou comer e eu dizer que já
comi em algum lugar.” Esse é o relato da dona de casa Tatiane Pereira, que vive
com o marido e os quatro filhos em uma casa no bairro Calafate, em Rio Branco.
Atualmente, a renda fixa
mensal para os seis integrantes da família é de R$ 400, vinda do Auxílio Brasil
(antigo Bolsa Família). É que, por conta das crianças, ela não consegue
trabalhar e o marido é autônomo e nem sempre tem serviço. Por isso, doações
ajudam a família a viver.
“Tenho dois filhos pequenos
que dependem de remédio, porque têm problemas de saúde e não tem como mesmo com
R$ 400 para comprar tudo isso. Então, dependo sempre da ajuda das pessoas”, diz
a dona de casa.
O Brasil voltou ao Mapa da
Fome, segundo a Organização das Nações Unidas. O percentual de brasileiros que
não têm certeza de quando vão fazer a próxima refeição está acima da média
mundial. São 61 milhões de brasileiros que enfrentaram dificuldades para se
alimentar entre 2019 e 2021; 15 milhões deles passaram fome. A pesquisa faz uma
média do que aconteceu durante três anos. Entre 2014 e 2016 eram menos de 4
milhões em insegurança alimentar grave.
Não é só a dificuldade para
garantir a alimentação que preocupa a Tatiane, também falta espaço para os
filhos dela dormirem. As quatro crianças dormem juntas, em uma cama de
solteiro. A mais velha conta como são as noites de sono com os irmãos. “É
difícil dormir na mesma cama com eles, eu sempre tenho que deixar de um jeito
bem certo para eles não ficarem caindo ou se machucando.”
Mesmo muitas vezes diante da
panela vazia, a dona de casa ainda enxerga um futuro melhor para os filhos.
“Meu principal sonho é arrumar esse lugar, deixar um lugar melhor para meus
filhos, que eles possam ter orgulho do lugar que eu pude dar pra eles. Fora
isso, ter um futuro melhor pra eles, de poderem me pedir algo e eu poder dar
pra eles.”
A filha mais velha também
fala dos sonhos. “Quando crescer quero ter um bom emprego para ajudar minha
mãe, sustentar ela quando estiver mais velha e quando ela não puder mais fazer
as coisas. Ontem mesmo eu falei pra ela que eu ia estudar bastante pra poder
dar a ela uma vida que sempre quis.”
Quase metade da população
abaixo da linha da pobreza
A Tatiane e a família fazem
parte de triste constatação. Segundo o Mapa da Nova Pobreza, divulgado esta
semana pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Quase metade dos acreanos tem menos
de meio salário-mínimo para passar o mês.
O estudo mostra que o contingente
de pessoas com renda domiciliar per capita até R$ 497 mensais atingiu 45,53% da
população total do Acre. Com esse resultado, o Acre ocupa o 13º lugar no
ranking dos estados com mais pobres do país. Em 2020 e 2019, ele ocupava a
sexta posição.
O objetivo do levantamento,
segundo a FGV, é avaliar a evolução espacial da pobreza nos últimos anos. A
metodologia da pesquisa considerou os dados microdados da PNAD Contínua Anual
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda segundo o levantamento,
o número de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza em 2021 aumentou 0.15
ponto percentual desde 2019, quando 45,37% da população acreana estava nessas
condições. Ou seja, a pobreza aumentou no estado em meio à pandemia da
Covid-19.
A capital acreana seguiu
essa mesma tendência de alta. Em 2019, antes da pandemia, 32,56% da população
vivia abaixo da linha da pobreza. E, no ano passado, já eram 38,29%.
“A grande pergunta é a
seguinte, o que levou efetivamente o Acre a essa situação? E a resposta é
simples, um conjunto de políticas públicas, econômicas fracassadas que fizeram
com que nosso estado o campeão na concentração de renda e um campeão na
pobreza”, avalia o economista Rubicleis Gomes.
(G1)
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