por Agência Brasil 10/10/2025 10:26

Em 2023, 3,1 milhões de lares estavam nesta situação, quantidade que caiu a 2,5 milhões em 2024.
Esses dados
mostram que o percentual de famílias em que houve percepção de insegurança
alimentar grave passou de 4,1% para 3,2% dos domicílios.
As
informações fazem parte da edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua sobre segurança alimentar, divulgada nesta
sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os
pesquisadores visitaram famílias em todas as partes do país e perguntaram sobre
a percepção dos moradores em relação à insegurança alimentar nos três meses
anteriores à entrevista.
Para
classificar os domicílios, o IBGE seguiu a Escala Brasileira de Insegurança
Alimentar (Ebia), que determina quatro graus:
Segurança
alimentar: acesso suficiente à comida, sem precisar comprometer outras
necessidades
Insegurança
alimentar leve: preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos
Insegurança
alimentar moderada: redução ou falta da quantidade de comida entre adultos
Insegurança
alimentar grave: redução ou falta também entre crianças. A fome passa a ser uma
experiência vivida no lar.
Insegurança
alimentar em queda
A pesquisa
mostra que o percentual de domicílios brasileiros em situação de segurança
alimentar subiu de 72,4% em 2023 para 75,8% em 2024.
No ano
passado, 59,4 milhões de lares tinham comida garantida sem necessidade de
sacrifícios.
Já a
insegurança alimentar como um todo (leve, moderada e grave) caiu de 27,6% para
24,2% no mesmo período, chegando a 18,9 milhões de endereços. Nestes lares,
moram 54,7 milhões de pessoas.
No entanto,
a pesquisadora do IBGE Maria Lucia França Pontes Vieira faz a ressalva que nem
todos os moradores, necessariamente, estão na condição de insegurança
alimentar.
“Pode ser
que uma pessoa tenha deixado de comer para outra pessoa comer, mas a outra não
percebeu isso. Então, a gente está falando sobre a percepção de um morador”,
diz.
Em um ano,
2,2 milhões de lares deixaram a condição de insegurança alimentar. Todas as
situações apresentaram redução de 2023 para 2024:
leve: de
18,2% para 16,4% dos lares
moderada: de
5,3% para 4,5%
grave: de
4,1% para 3,2%
Em 2023, o
país tinha cerca de 76,7 milhões de domicílios. Em 2024, a quantidade se
aproximou de 78,3 milhões.
Trabalho e
renda
A
pesquisadora Maria Lucia Vieira destaca o papel do mercado de trabalho e de
ações do governo, como programas sociais, para a queda da insegurança
alimentar.
“Para
adquirir alimentos, vai ser através de renda. Essa renda ou vem do trabalho ou
de programas [assistenciais]”, diz.
Ela observa
que a pesquisa não consegue precisar o quanto da melhora se deu pelo mercado de
trabalho ou por programas como o Bolsa Família.
“O quanto de
impacto que foi de mercado de trabalho ou dos programas sociais, isso não
consigo responder, mas, algum impacto [os programas assistenciais] certamente
têm”.
Mínima
histórica
As pesquisas
de 2023 e 2024 fazem parte de um convênio com o Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome.
O IBGE já
investigou a segurança alimentar em outras pesquisas, desde 2004.
Observando
todos os levantamentos, é possível perceber que o conjunto das duas piores
formas de insegurança alimentar atingiu, em 2024, o menor nível já registrado:
7,7%.
Percentual
de domicílios com insegurança alimentar moderada ou grave:
2004: 16,8%
2009: 11,5%
2013: 7,8%
2017/2018:
12,7%
2023: 9,4%
2024: 7,7%
Todos os
levantamentos são Pnads, à exceção de 2017/2018, feito pela Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF).
Maria Lucia
França Pontes Vieira explica que as pesquisas até 2018 têm metodologias e
amostragens diferentes das de 2023 e 2024.
“Não são
exatamente diretamente comparáveis, mas a gente consegue, a partir delas, ter
uma ideia da evolução da segurança alimentar no país ao longo desse tempo.”
Em relação à
segurança alimentar, o índice de 2024 (75,8%) é o segundo maior. O recorde foi
em 2013 (77,4%):
2004: 65,1%
2009: 69,8%
2013: 77,4%
2017/2018:
63,3%
2023: 72,4%
2024: 75,8%
Sobre o
recuo entre 2013 e a pesquisa seguinte, Maria Lucia Vieira lembra que o país
enfrentou uma crise econômica em 2015, como reflexos negativos no nível de
emprego.
Desigualdades
O estudo do
IBGE revela que, em 2024, a condição de insegurança alimentar foi mais presente
na área rural.
Enquanto nas
regiões urbanas 23,2% dos domicílios vivenciaram a situação, no campo esse
percentual chegou a 31,4%.
De acordo
com Maria Lucia Vieira, o fato de o morador de área rural ter acesso a terra
para cultivo de alimento não é sinônimo de segurança alimentar.
“Pelo
conceito de segurança alimentar, a gente está falando de variedade, qualidade e
quantidade de alimentos. Geralmente, quem vai plantar ou criar um animal para
se alimentar não tem essa variedade toda e talvez não tenha também a quantidade
toda para domicílios que costumam ter mais crianças e idosos”, avalia.
Estados
Em um
recorte da pesquisa pelas regiões do Brasil, os pesquisadores identificaram que
a proporção de domicílios com insegurança alimentar moderada e grave fica acima
da média nacional (7,7%) no Norte e no Nordeste:
Norte: 14,1%
Nordeste:
12,3%
Centro-Oeste:
6,1%
Sudeste:
5,5%
Sul: 3,8%
Maria Lucia
Vieira ressalta que a segurança alimentar aumentou em todas as regiões no
intervalo das duas últimas pesquisas.
Já em
relação às inseguranças moderada e grave, as maiores quedas foram percebidas no
Norte (1,9 ponto percentual) e no Nordeste (2,7 pontos percentuais).
Os estados com
maiores proporções de segurança alimentar são Santa Catarina (90,6%), Espírito
Santo (86,5%) e Rio Grande do Sul (85,2%). As menores taxas ficam no Pará
(55,4%), Roraima (56,4%) e Piauí (60,7%).
Ao observar
o conjunto de insegurança alimentar moderada e grave, os estados com os maiores
índices são os nortistas Pará (17,1%), Amapá (16,3%), Roraima (15,9%) e
Amazonas (14,5%). Santa Catarina tem o menor percentual do país, 2,9%.
Mapa da Fome
Neste ano, o
Brasil deixou, novamente, o Mapa da Fome – um indicador da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que identifica países em
que mais de 2,5% da população sofrem de subalimentação grave (insegurança
alimentar crônica).
O combate à
fome é tratado como uma das prioridades do governo, inclusive no plano
internacional. No ano passado, o Brasil lançou a Aliança Global contra a Fome e
a Pobreza, com o objetivo de reunir países no combate à insegurança alimentar.
Na próxima
segunda-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará do Fórum
Mundial da Alimentação, em Roma, Itália, evento promovido pela FAO.



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