Acre

Projeto voluntário de capacitação de reeducandas no Acre é premiado pelo Rotary Internacional

O Acre Notícia - Por redação 

Projeto idealizado e realizado pela advogada Elaine Ruiz, já contemplou cerca de 146 meninas e foi um dos seis reconhecidos pelo Rotary Internacional

Advogada Elaine Ruiz criou o projeto em 2017, com o intuito de capacitar e trazer perspectivas de vida para as adolescentes do Centro Sócio Educativo Casa Mocinha Magalhães. (Foto: Arquivo pessoal)

Há quatro anos, a advogada acreana Elaine Ruiz idealizou e iniciou o projeto “Alinhavando o Futuro”, de profissionalização das reeducandas do Centro Sócio Educativo Casa Mocinha Magalhães, por meio do Rotary Clube de Senador Guiomard, no Acre. Em outubro deste ano, o trabalho foi premiado pelo Rotary Internacional, sendo o único trabalho brasileiro a concorrer em 2021 e o primeiro projeto acreano a receber o reconhecimento.

Rede global de voluntários com a missão de servir ao próximo, o Rotary realiza a premiação anual “Pessoas em Ação” para reconhecer os associados de todo o mundo a partir de um tema específico. No período de 2020-2021, a pauta do evento foi “Empoderamento de Meninas”, do qual o projeto de Elaine foi um dos seis selecionados.

Sem premio em dinheiro, a celebração consiste no reconhecimento dos trabalhos desenvolvidos. Uma solenidade seria realizada em outubro deste ano na sede da ONU em Nova Iorque, mas por conta da pandemia do novo coranavírus, deve ser adiado para março do ano que vem.

“O reconhecimento é importante, não que a gente faça esperando, nosso lema é ‘fazer o bem sem olhar a quem’, mas valoriza o esforço do nosso trabalho e incentiva” comemora a advogada.

O projeto de Elaine foi um dos seis reconhecidos em todo o mundo, pela organização.

O projeto de Elaine começou em 2017, quando ela assumiu a presidência do clube na cidade de Senador Guiomard. Mesmo com pausa em 2020, devido a pandemia, o projeto continua sendo executado até hoje e consiste na profissionalização de meninas de 12 a 18 anos internadas na Casa Mocinha Magalhães, único centro que recebe meninas no estado.

Com cursos, oficinas e palestras, o “Alinhavando Futuros” iniciou ensinando técnicas de corte e costura para a participantes. Teve ainda oficinas como as de customização de roupas, de decoração de sandálias, confecção de bonecas, automaquiagem, autocuidado e os cursos de terrário e sobrancelha são os próximos programados para este ano. Palestras em roda de conversa com relação ao mercado de trabalho, violência doméstica, suicídio e câncer de mama, também passaram pelo Centro Sócio Educativo.

“Além dos cursos nós íamos sempre em mais pessoas, além das capacitadoras, porque a ideia era ganhar a confiança das meninas, ouvir a história de cada uma e a partir desse momento acolher, mostrar que este só um momento da vida delas e as perspectivas que elas tem aqui fora”, explica Elaine.

Oficinas, cursos e palestras dos mais variados temas integram o projeto desde 2017.


Difícil realidade

A advogada afirma que 70% das adolescentes que estão na Casa entraram no mundo do crime pelo tráfico de drogas. Aliciadas muitas vezes por namorados ou conhecidos que prometem uma vida melhor e põem em contraste a desigualdade dos dois mundos. Pois em alguns casos, o dinheiro prometido chega a ser maior do que a família consegue juntar em um ano.

Elaine destaca que o governo oferece às jovens internadas a opção de estudar pelo projeto Educação de Jovens e Adultos (Eja) e defende o estudo e a profissionalização como essenciais para modificar a vida das reeducandas que, segundo ela, entram sem perspectivas de futuro.

“Imaginem uma menina que vem lá do Jordão, ou de Sena Madureira, por exemplo, com 12 ou 13 anos de idade, que vai cumprir medida no Centro. O que essa menina conhece da vida? Ela não tem nem noção do que é a vida ou do que existe de bom para ela fora dali”, reflete.

Cerca de 146 meninas participaram do projeto ao longo destes anos.

Mesmo com o sucesso do projeto atualmente, a ideia sofreu resistência. A advogada revela que alguns colegas do próprio clube questionaram o investimento que iriam fazer, tendo em vista o público que seria atendido.

“Mas esse público precisa e muito! Essas crianças e adolescentes vão sair e precisam ser reinseridas nas suas vidas e no mercado de trabalho. Porque se não, elas voltam para aquele ciclo, porque o aliciamento existe muito forte”, defendeu.

Tal realidade, a Elaine acompanha há anos e por outro prisma, o de professora, carreira que exerceu durante 30 anos, passando principalmente pela rede pública de ensino. Ela conta que foi durante o período da docência que começou a trabalhar o olhar subjetivo pelos alunos, o qual ela levou para o projeto.

“É muito gratificante trabalhar lá dentro, e poder ter contato com aquelas meninas, saber os sonhos dela, pq elas estão alí, que é importante sonhar.

Felizmente o projeto seguiu adiante e cerca de 146 meninas puderam ser atendidas e beneficiadas. Trabalho de longo prazo que a sociedade deve colher os frutos futuramente. “Todos os momentos que passo lá dentro são mágicos e encantadores, enche minha alma de gratidão a Deus pode poder fazer esse trabalho”, comemora Elaine.




 (Daniel Scarcello - Agazeta do Acre)

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