por Redação
Na divisa
entre Boca do Acre, Lábrea, Porto Acre e Senador Guiomard, está a maior
concentração de conflitos agrários da região amazônica. Posseiros dividem a
terra entre si, os fazendeiros reclamam a posse, mas no fim de tudo, o dono
real é a União. Mas com um estado ausente, que não media, muito menos resolve
os conflitos, os tiroteios, ameaças de morte e violência em geral seguem
acontecendo nessa região.
Cosme
Capistrano da Silva, liderança da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Boca do
Acre, afirma que muitas famílias trabalhavam anteriormente na extração de
castanha nas áreas de mata. Desde 2022, elas decidiram ocupar essas terras e
dividir os lotes entre si. Boa parte dessas áreas são de propriedade da União,
ou seja, não tiveram uma destinação dada pelo governo. “Em 2022, eles decidiram
ocupar essa área. Foi aí que começou os tiroteios, as ameaças de morte, a
tortura”.
Assim, os
grandes e novos fazendeiros afirmam que os posseiros estão invadindo as
reservas legais de suas propriedades e, por isso, os expulsam. Aqueles que não
aguardam uma decisão judicial para seus pedidos de reintegração de posse
recorrem a pistoleiros e jagunços para fazer a retirada das famílias dos
agricultores com violência.
“Nós temos
um Estado ausente. Nós não temos reforma agrária na nossa região. O único
projeto de assentamento foi na década de 1980. Em toda essa região, só temos
dois assentamentos, o PAE [Projeto de Assentamento Agroextrativista] Monte e o
PAE Antimary, que pega Boca do Acre e Lábrea. De lá pra cá, ninguém mais foi
assentado”, diz Cosme.
Lábrea e
Boca do Acre
Junto com Boca do Acre, também está no epicentro dos problemas da AMACRO a cidade de Lábrea, também no Amazonas. De acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ambas as cidades estão entre as mais afetadas pelo desmatamento e pela degradação florestal, que se intensificam com o aumento das queimadas. Em julho de 2024, Lábrea registrou 23 km² de desmatamento, enquanto Boca do Acre somou 20 km², colocando-as no ranking das áreas mais impactadas da Amazônia.
Essa
tendência reflete o aumento das atividades agropecuárias e da grilagem de
terras, que são os principais motores das queimadas na região. A seca
prolongada facilita a propagação de incêndios florestais, contribuindo para a
degradação ambiental. Dados do PrevisIA, uma plataforma que prevê riscos de
desmatamento, indicam que tanto Lábrea quanto Boca do Acre estão em áreas de
alto risco para destruição florestal.
Estratégia
do mal
A
estratégia, de acordo com Cosme, é despejar veneno sobre as áreas de floresta
com o uso de aviões, deixando a mata morrer de forma “natural”. Depois, queimar
o que sobrou. “Quando a fiscalização [ambiental] chega, eles [grandes
agricultores] culpam o trabalhador, culpam o extrativista”.
inf.via/jornalopinião
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