Dentre as
MEGA CORPORAÇÕES que o vigiam, sua operadora de celular tem sido sempre a mais
intensa no monitoramento, em contato constante com o pequeno dispositivo que
você mantém na palma da mão quase o tempo todo. Um documento confidencial do
Facebook analisado pelo Intercept mostra que a rede social atrai operadoras
telefônicas e fabricantes de celulares – cerca de 100 empresas diferentes em 50
países – oferecendo o uso de ainda mais dados de vigilância retirados
diretamente do seu smartphone pela rede social.
Oferecidos
para um grupo seleto de parceiros do Facebook, os dados incluem não apenas
informações técnicas sobre os dispositivos dos usuários da rede social e o uso
de redes wi-fi e de celular, mas também suas localizações anteriores,
interesses e até mesmo seus grupos sociais.
Esses dados são obtidos não apenas
dos principais aplicativos iOS e Android da empresa, mas também do Instagram e
do Messenger. Os dados têm sido usados por parceiros do Facebook para avaliar
sua posição em relação a concorrentes, incluindo clientes perdidos e ganhos,
mas também para usos mais controversos, como anúncios segmentados por raça.
Alguns
especialistas estão particularmente alarmados com o fato de o Facebook ter
comercializado o uso da informação – e parece ter ajudado a facilitar
diretamente seu uso, juntamente com outros dados do Facebook – com o objetivo
de rastrear os clientes com base em sua probabilidade de obter crédito
financeiro. Tal uso poderia entrar em conflito com uma lei federal americana,
que regula rigorosamente as avaliações de crédito.
O Facebook
disse que não fornece serviços de análise de crédito e que os dados que oferece
às operadoras e fabricantes de celulares não vão além dos que já estavam sendo
coletados para outros usos.
As parcerias
de telefonia celular do Facebook são particularmente preocupantes por conta dos
amplos poderes de vigilância já desfrutados por operadoras como a AT&T e a
T-Mobile: assim como o seu provedor de serviços de Internet é capaz de observar
os dados utilizados entre sua casa e o resto do mundo, as empresas de
telecomunicações têm um ponto privilegiado de onde podem coletar muitas
informações sobre como, quando e onde você está usando seu telefone.
A AT&T,
por exemplo, afirma claramente em sua política de privacidade que coleta e
armazena informações “sobre os sites que você visita e os aplicativos móveis
que você usa em nossas redes”. Junto com a supervisão de chamadas e mensagens
de texto por parte das operadoras, isso representa praticamente tudo o que você
faz em seu smartphone.
Por dentro
do “Actionable Insights”
Você poderia
pensar que esse grau de monitoramento contínuo seria mais do que suficiente
para um gigante de comunicações operar seu negócio – e talvez, por algum tempo,
realmente tenha sido. Mas a existência do “Actionable Insights” do Facebook, um
programa corporativo de compartilhamento de dados, sugere que as empresas de
comunicações não estão satisfeitas com o que já conseguem ver das nossas vidas.
O Actionable
Insights foi anunciado no ano passado em um post inofensivo e fácil de ignorar
no blog de engenharia do Facebook. O artigo, intitulado “Divulgação de ferramentas
para ajudar os parceiros a melhorar a conectividade”, sugeria fortemente que o
programa visava principalmente a solução de conexões fracas de dados celulares
ao redor do mundo. “Para resolver esse problema”, começava o post, “estamos
construindo um conjunto diversificado de tecnologias, produtos e parcerias
projetados para expandir os limites da qualidade e desempenho de conectividade
existentes, catalisar novos segmentos de mercado e proporcionar melhor acesso
aos desconectados.” Que tipo de monstro estaria contra um melhor acesso para os
desconectados?
O post do
blog faz apenas uma breve menção do segundo propósito menos altruísta do
Actionable Insights: “possibilitar melhores decisões de negócios” por meio de
“ferramentas analíticas”. De acordo com materiais analisados pelo Intercept e
uma fonte diretamente familiarizada com o programa, o benefício real do
Actionable Insights não está na sua capacidade de consertar conexões instáveis,
mas de ajudar corporações específicas a usar seus dados pessoais para comprar
publicidade melhor direcionada.
De acordo
com uma parte da apresentação, o aplicativo móvel do Facebook coleta e empacota
oito categorias diferentes de informações para mais de 100 empresas diferentes
de telecomunicações em mais de 50 países, incluindo dados de uso de telefones
de crianças de até 13 anos. Essas categorias incluem o uso de vídeo,
informações demográficas, localização, uso de redes wi-fi e de celular,
interesses pessoais, informações sobre dispositivos e “homofilia de amigos”, um
jargão acadêmico.
Um artigo de 2017 sobre amizade em mídias sociais do Journal
of the Society of Multivariate Experimental Psychology definiu “homofilia”
neste contexto como “a tendência que os nós têm de formar relações com aqueles
que são semelhantes a eles mesmos”. Em outras palavras, o Facebook está usando
o seu telefone para fornecer não somente dados comportamentais sobre você às
operadoras de celular, mas sobre seus amigos também.
A partir de
somente essas oito categorias, um terceiro poderia aprender enormemente sobre
os padrões de vida cotidiana dos usuários e, embora o documento alegue que os
dados coletados pelo programa são “agregados e tornados anônimos”, os estudos
acadêmicos descobriram em diversas ocasiões que os dados de usuários
supostamente tornados anônimos podem ser facilmente revertidos em informações
que deixam de ser anônimas.
Hoje, tais alegações de anonimização e agregação
são essencialmente um clichê das empresas que apostam que você se sentirá
confortável com elas possuírem um enorme acervo de observações pessoais e
previsões comportamentais sobre seu passado e futuro, desde que os dados sejam
suficientemente esterilizados e agrupados com os do seu vizinho.
Um porta-voz
do Facebook disse ao Intercept que o Actionable Insights não coleta dados de
dispositivos de usuários que já não estivessem sendo coletados anteriormente.
Em vez disso, segundo o porta-voz, o Actionable Insights reembala os dados de
novas maneiras úteis para anunciantes nas indústrias de telecomunicações e
smartphones.
O material
analisado pelo Intercept mostra informações demográficas apresentadas em uma
exibição no estilo de um painel de controle, com mapas mostrando as
localizações dos clientes no nível do município e da cidade. Um porta-voz do
Facebook disse que “não achava que ia além do código postal”. Mas, armado com
dados de localização transmitidos diretamente de seu telefone, o Facebook
poderia tecnicamente fornecer a localização do cliente com precisão de vários
metros, dentro ou fora de casa.
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