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GRAÇAS AO FACEBOOK, SUA OPERADORA DE CELULAR TE VIGIA AGORA MAIS PERTO DO QUE NUNCA

Por JOCIVAN SANTOS - O blog do Acre, 24 de maio 2019 Veja mais
Dentre as MEGA CORPORAÇÕES que o vigiam, sua operadora de celular tem sido sempre a mais intensa no monitoramento, em contato constante com o pequeno dispositivo que você mantém na palma da mão quase o tempo todo. Um documento confidencial do Facebook analisado pelo Intercept mostra que a rede social atrai operadoras telefônicas e fabricantes de celulares – cerca de 100 empresas diferentes em 50 países – oferecendo o uso de ainda mais dados de vigilância retirados diretamente do seu smartphone pela rede social.


Oferecidos para um grupo seleto de parceiros do Facebook, os dados incluem não apenas informações técnicas sobre os dispositivos dos usuários da rede social e o uso de redes wi-fi e de celular, mas também suas localizações anteriores, interesses e até mesmo seus grupos sociais. 

Esses dados são obtidos não apenas dos principais aplicativos iOS e Android da empresa, mas também do Instagram e do Messenger. Os dados têm sido usados por parceiros do Facebook para avaliar sua posição em relação a concorrentes, incluindo clientes perdidos e ganhos, mas também para usos mais controversos, como anúncios segmentados por raça.


Alguns especialistas estão particularmente alarmados com o fato de o Facebook ter comercializado o uso da informação – e parece ter ajudado a facilitar diretamente seu uso, juntamente com outros dados do Facebook – com o objetivo de rastrear os clientes com base em sua probabilidade de obter crédito financeiro. Tal uso poderia entrar em conflito com uma lei federal americana, que regula rigorosamente as avaliações de crédito.

O Facebook disse que não fornece serviços de análise de crédito e que os dados que oferece às operadoras e fabricantes de celulares não vão além dos que já estavam sendo coletados para outros usos.

As parcerias de telefonia celular do Facebook são particularmente preocupantes por conta dos amplos poderes de vigilância já desfrutados por operadoras como a AT&T e a T-Mobile: assim como o seu provedor de serviços de Internet é capaz de observar os dados utilizados entre sua casa e o resto do mundo, as empresas de telecomunicações têm um ponto privilegiado de onde podem coletar muitas informações sobre como, quando e onde você está usando seu telefone.

A AT&T, por exemplo, afirma claramente em sua política de privacidade que coleta e armazena informações “sobre os sites que você visita e os aplicativos móveis que você usa em nossas redes”. Junto com a supervisão de chamadas e mensagens de texto por parte das operadoras, isso representa praticamente tudo o que você faz em seu smartphone.


Por dentro do “Actionable Insights”

Você poderia pensar que esse grau de monitoramento contínuo seria mais do que suficiente para um gigante de comunicações operar seu negócio – e talvez, por algum tempo, realmente tenha sido. Mas a existência do “Actionable Insights” do Facebook, um programa corporativo de compartilhamento de dados, sugere que as empresas de comunicações não estão satisfeitas com o que já conseguem ver das nossas vidas.

O Actionable Insights foi anunciado no ano passado em um post inofensivo e fácil de ignorar no blog de engenharia do Facebook. O artigo, intitulado “Divulgação de ferramentas para ajudar os parceiros a melhorar a conectividade”, sugeria fortemente que o programa visava principalmente a solução de conexões fracas de dados celulares ao redor do mundo. “Para resolver esse problema”, começava o post, “estamos construindo um conjunto diversificado de tecnologias, produtos e parcerias projetados para expandir os limites da qualidade e desempenho de conectividade existentes, catalisar novos segmentos de mercado e proporcionar melhor acesso aos desconectados.” Que tipo de monstro estaria contra um melhor acesso para os desconectados?

O post do blog faz apenas uma breve menção do segundo propósito menos altruísta do Actionable Insights: “possibilitar melhores decisões de negócios” por meio de “ferramentas analíticas”. De acordo com materiais analisados pelo Intercept e uma fonte diretamente familiarizada com o programa, o benefício real do Actionable Insights não está na sua capacidade de consertar conexões instáveis, mas de ajudar corporações específicas a usar seus dados pessoais para comprar publicidade melhor direcionada.

De acordo com uma parte da apresentação, o aplicativo móvel do Facebook coleta e empacota oito categorias diferentes de informações para mais de 100 empresas diferentes de telecomunicações em mais de 50 países, incluindo dados de uso de telefones de crianças de até 13 anos. Essas categorias incluem o uso de vídeo, informações demográficas, localização, uso de redes wi-fi e de celular, interesses pessoais, informações sobre dispositivos e “homofilia de amigos”, um jargão acadêmico. 

Um artigo de 2017 sobre amizade em mídias sociais do Journal of the Society of Multivariate Experimental Psychology definiu “homofilia” neste contexto como “a tendência que os nós têm de formar relações com aqueles que são semelhantes a eles mesmos”. Em outras palavras, o Facebook está usando o seu telefone para fornecer não somente dados comportamentais sobre você às operadoras de celular, mas sobre seus amigos também.

A partir de somente essas oito categorias, um terceiro poderia aprender enormemente sobre os padrões de vida cotidiana dos usuários e, embora o documento alegue que os dados coletados pelo programa são “agregados e tornados anônimos”, os estudos acadêmicos descobriram em diversas ocasiões que os dados de usuários supostamente tornados anônimos podem ser facilmente revertidos em informações que deixam de ser anônimas. 

Hoje, tais alegações de anonimização e agregação são essencialmente um clichê das empresas que apostam que você se sentirá confortável com elas possuírem um enorme acervo de observações pessoais e previsões comportamentais sobre seu passado e futuro, desde que os dados sejam suficientemente esterilizados e agrupados com os do seu vizinho.

Um porta-voz do Facebook disse ao Intercept que o Actionable Insights não coleta dados de dispositivos de usuários que já não estivessem sendo coletados anteriormente. Em vez disso, segundo o porta-voz, o Actionable Insights reembala os dados de novas maneiras úteis para anunciantes nas indústrias de telecomunicações e smartphones.

O material analisado pelo Intercept mostra informações demográficas apresentadas em uma exibição no estilo de um painel de controle, com mapas mostrando as localizações dos clientes no nível do município e da cidade. Um porta-voz do Facebook disse que “não achava que ia além do código postal”. Mas, armado com dados de localização transmitidos diretamente de seu telefone, o Facebook poderia tecnicamente fornecer a localização do cliente com precisão de vários metros, dentro ou fora de casa.



Por Sam Biddle / The Intercept Brasil







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