por Redação
Energia elétrica e alimentos mais caros devem elevar o IPCA nos próximos meses, estimam economistas.
A análise
mais recente do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden) aponta que 2024 é o ano com a seca de maior extensão e
intensidade do Brasil nos últimos 70 anos. Ao todo, são cerca de 5 milhões de
km² com alguma condição de seca, o equivalente a 58% do território nacional.
Nesse
cenário, os brasileiros devem preparar o bolso, já que vários setores da
economia vão sentir o impacto da seca. A Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) já determinou o acionamento da bandeira vermelha patamar 1 nas contas
de energia, em função da previsão de chuvas abaixo da média nos reservatórios
das hidrelétricas. Com isso, haverá cobrança extra de R$ 4,46 a cada 100 kWh
consumidos.
Segundo o
presidente do Sindicato dos Economistas de São Paulo (SINDECON-SP) Carlos
Eduardo Oliveira, o encarecimento da energia pode afetar outros setores da
economia.
“A elevação
do preço da energia elétrica impacta nos custos da produção, pressionando ainda
mais a inflação. E isso prejudica a competitividade, visto que você tem que
praticar preços mais elevados, principalmente [em comparação] com produtos
importados, e acaba impactando muito a indústria brasileira. O aumento da conta
de luz acaba impactando na compra das famílias, porque você tem que gastar um
pouco a mais para comprar a mesma coisa de produtos.”
O
levantamento mais atual do IBGE mostra que o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) acumulou uma alta de 4,5% nos últimos 12 meses terminados em
julho. O valor é considerado o teto da meta perseguida pelo Banco Central. Mas,
segundo o economista Carlos Eduardo, o indicador da inflação pode aumentar
ainda mais, já que a produção de alimentos tem forte influência no IPCA.
“Se [a seca]
persiste muito, ela afeta a produção agrícola, especialmente itens
alimentícios, e também acaba afetando o índice como um todo, ou seja, vai
elevar o preço dos alimentos, como nós já vimos nos últimos tempos.”
O economista
Carlos Eduardo explica como a falta de chuva pode prejudicar a produção de
alimentos.
“Essa
ausência de chuvas impacta em produtos que dependem de irrigação, como feijão,
milho, hortaliças, que têm impacto forte. Além da escassez desses produtos,
acaba impactando até na produção de carne, porque o gado e as aves têm que ter
disponibilidade de água para irrigação de pastos e a geração de grãos para alimento
e isso acaba impactando em muito a questão dos alimentos.”
Para o
economista Newton Marques, membro do Conselho Regional de Economia do Distrito
Federal (Corecon-DF), apesar do cenário atual, não há risco de
desabastecimento.
“Sempre
existe essa preocupação, mas como o ciclo da agropecuária não é tão grande, a
não ser no caso da pecuária, se houver uma mudança climática, com chuvas, isso
pode trazer uma mudança a médio prazo.”
Cenário da
seca
Segundo o
boletim de monitoramento do Cemaden, 3.978 municípios estão com algum grau de
seca, sendo 201 em seca extrema. A previsão do órgão é que o número suba para
4.583 municípios, com 232 em seca severa no boletim de setembro.
Segundo
pesquisadora do Cemaden, a doutora Ana Paula Cunha, diferentemente dos outros
anos, quando a seca ocorria de forma localizada em algumas regiões, esse ano o
fenômeno abrange mais áreas do território nacional.
“Em 2020, a
gente teve uma seca muito extensiva na Região Centro-Oeste do país. Em 2012 a
2017, a gente teve uma seca bastante extensiva no Semiárido e, em 2015 a 2016,
em grande parte do Centro-Norte do país. No entanto, essa de 2023-2024 é a
primeira que cobre desde o Norte até o Sudeste do país.”
O
levantamento leva em consideração não apenas a falta de precipitações, mas
também a umidade do solo e as condições da vegetação. Segundo a pesquisadora do
Cemaden, a situação pode ficar ainda pior com a previsão de atraso do início da
temporada de chuvas.
“Em relação
a este mês de setembro, a expectativa é de que possa chover no final do mês, no
Centro-Sul do país. Mas as previsões para os próximos três meses, para o
Centro-Norte do país — que pega Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará, Amazonas,
Acre — [é de que] as chuvas ainda sejam abaixo do esperado.”
De acordo
com o Cemaden, muitas regiões do país já estão há mais de 120 dias consecutivos
sem chuvas, o que agrava ainda mais a situação da produção agropecuária,
especialmente das terceiras safras de milho e feijão, além da qualidade das pastagens
para pecuária extensiva.
Mais de 1,7
mil cidades são afetadas pela seca severa ou extrema no Brasil.
inf.via/oaltoacre
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